COLETIVA | O REAL RESISTE

Leo Gandelman

O REAL RESISTE

INTERVENÇÃO URBANA “LAMBE-LAMBE”

 

A Galeria Eduardo Fernandes apresenta a mostra O Real Resiste. A exposição, que teve sua primeira montagem na cidade do Rio de Janeiro, pela Galeria Mul.ti.plo, traz 30 gravuras das imagens concebidas para os cartazes do tipo “lambe-lambe” utilizados na intervenção urbana de mesmo nome, realizada agora em São Paulo. Artistas de distintas gerações, idades, áreas da cidade, linguagens e poéticas espalharam mensagens nos mais diferentes pontos da cidade, num ato de reafirmação da arte e da vida em tempos de demolição da cultura, de negacionismos, da escalada do poder punitivo, da mediocridade, do preconceito e da incapacidade de gestão da pandemia.

Com formato de 33 cm X 48 cm, impressas em litografia e em papel Hahnemuhle, as gravuras têm edições numeradas de 12 exemplares. Estão lá todos os 30 cartazes utilizados na intervenção, com as criações de Ana Calzavara, Carlito Carvalhosa, Chelpa Ferro, Josiane Santana, Leo Gandelman, Marcelo Macedo, Marina Wisnik, Omar Britto, Saulo Nicolai, entre outros. “Transformados em gravuras, os lambe-lambes que habitaram momentaneamente os muros da cidade e sofreram as ações do tempo e da exposição nas ruas perpetuam-se em novo formato. Do grito ao registro, mantendo a potência do gesto”, diz Maneco Müller. Durante a exposição será lançado também um livro, impresso em risografia, com todas as obras.

A exposição das gravuras é mais um desdobramento do projeto O Real Resiste, idealizado por Maneco Müller (sócio da Galeria Mul.ti.plo, Leblon - RJ) e Manuela Müller (arquiteta e urbanista), realizado em parceria com artistas e que em São Paulo, tem sua representação realizada pela Galeria Eduardo Fernandes. O Real Resiste foi inspirado em uma música de mesmo nome de Arnaldo Antunes, que participou da primeira ação, dos lambe-lambes. Depois, o projeto seguiu por meio da dança, onde cinco grupos formados por 50 bailarinos e coreógrafos cariocas realizaram intervenções em espaços públicos da cidade – Rocinha, Méier, Brás de Pina, Cinelândia e Praça Mauá –, numa reflexão sobre o confinamento do corpo. Tanto a música como as coreografias foram criadas exclusivamente para a ação. Filmado, o ato depois virou um trabalho de videoarte, que foi lançado em janeiro de 2021.  

ARTISTAS

Arnaldo Antunes, Criola, Elvis Almeida, João Sánchez, Leo Gandelman, Marcos Chaves, Pedro Sánchez, Raul Mourão, Walter Carvalho, Ana Calzavara, Cabelo, Carlito Carvalhosa, Carlos Vergara e Bernardo Vilhena

Casa Voa: Antonio Bokel, Carolina Kasting, Clarice Rosadas, Maria Flexa, Marcelo Macedo e Mateo Velasco
Chelpa Ferro: Luiz Zerbini, Barrão e Sergio Mekler

Favelagrafia: Anderson Valentim, Elana Paulino, Josiane Santana, Joyce Piñeiro, Omar Britto, Rafael Gomes e Saulo Nicolai
Poetas: Catarina Lins, Gabriela Marcondes e Marina Wisnik

Carlito Carvalhosa


Cada lambe-lambe é uma espécie de lampejo capaz de mostrar o que estava sendo velado. Seu caráter
efêmero denuncia a temporalidade presente nos muros, pois o que antes foi colado, pixado, desenhado,
fixado e pintado, deixa rastros, transforma o espaço e atravessa os demais agentes.
— Manuela Müller

Josiane Santana

Josiane Santana

Saulo Nicolai

Saulo Nicolai

Criola

Criola

Elana Paulino

Marcelo Macedo

O REAL

é o mote para o ato de resistência

de Manuela Müller

Uma iniciativa surge da urgência de romper com a atual censura e sucateamento da arte: ocupar poeticamente os vazios urbanos consequentes do período pandêmico. O vigente projeto de poder não só trata as pessoas de maneira estatística, como vai além: nega os próprios números. Para enfrentar tamanho descaso, esta intervenção reúne 33 artistas com o intuito de construir uma ação pluriperspectivística, pois confiamos em uma força coletiva, inclusiva, diversa e atenta.

Não se trata de, preguiçosamente, difundir cartazes pelas ruas em busca do espetáculo, mas de promover um gesto reflexivo acerca da cidade de São Paulo. Acreditamos que este seja um ato urgente e visceral para quem acredita no valor da arte como aliada crítica, (cri)ativa e permanente da vida. Essa construção nasce da possibilidade de, juntos, veicularmos a pluralidade de linguagens, vivências e conflitos de modo que esses dizeres possam reverberar pelas esquinas, cantos, corredores e cruzamentos da urbe.

Cada lambe-lambe é uma espécie de lampejo capaz de mostrar o que estava sendo velado. Seu caráter efêmero denuncia a temporalidade presente nos muros, pois o que antes foi colado, pixado, desenhado, fixado e pintado, deixa rastros, transforma o espaço e atravessa os demais agentes. A sobreposição de camadas revela as coexistências e desmoraliza visões binarias da realidade, porquanto cria um emaranhado de complexidades.

A obra de Carlito Carvalhosa reafirma a ideia de palimpsesto, criando vazios e se permitindo ser afetada pelas preexistências. Os trabalhos de Arnaldo Antunes e Marcos Chaves levam a potência clandestina da ação até as últimas consequências, dado que revelam o óbvio e, por isso mesmo, deixam marcas no mundo da pós-verdade. Tais criações, assim como as de Carlos Vergara e Clarice Rosadas, também discutem sobre o limiar latente entre a vida e a morte. Diante dessa inquietação, Tom Valentim, Saulo Nicolai, Josiane Santana, Carolina Kasting, Criola, Maria Flexa, Joyce Piñeiro e Elana Paulino trazem questões ligadas ao lugar de fala e aos corpos considerados “outros” em nossa sociedade. Elana também aponta na direção do que Walter Carvalho, Marina Wisnik e Omar Brito carregam como crítica aos

mecanismos de uma cidade estilhaçada e dotada de uma sistêmica irresponsabilidade social. Já Antonio Bokel, Elvis Almeida e Mateu Velasco tratam, de maneira provocativa, da informalidade do cotidiano urbano. A constante repressão aos fazeres artísticos e o descaso dos governos com as instituições é levantado mais diretamente por Pedro Sánchez, João Sánchez e Chelpa Ferro. No sentido vertiginoso da realidade, Raul Mourão, Cabelo e Marcelo Macedo miram no Estado atual. A partir desse lugar, Catarina Lins e Gabriela Marcondes convocam o público a refletir e a agir diante do absurdo. De maneira esperançada, mas não ingênua, Rafael Gomes, Leo Gandelman e Ana Calzavara falam do porvir.

Ailton Krenak nos ensina que, para alguns povos indígenas, o futuro está atrás (por se tratar de um nevoeiro de incessantes incógnitas), enquanto o passado está a frente (porque o conhecemos e reconhecemos). Isso torna explicito que a tentativa de unir esforços para construir um outro amanhã se faz indispensável e constante. Mesmo quando o último vestígio dos cartazes tiver sumido, eles estarão presentes no imaginário urbano, pois como diria Saramago, são uma “porta que se abre para deixar entrar o que ainda não sucedeu”.

As criações artísticas são embriões de futuro; o amanhã RESISTE


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